O Agente Comunitário de Saúde pode fazer o que médicos não conseguem: prevenir onde a doença nasce.
Enquanto nos postos de saúde os médicos e enfermeiros enfrentam filas e desafios técnicos, há uma força silenciosa e muitas vezes esquecida que pode mudar o jogo da saúde pública no Brasil: o Agente Comunitário de Saúde (ACS).
Ele não atende com jaleco, não prescreve remédios nem faz procedimentos. Mas sabe o nome de cada morador da rua, conhece as histórias, os hábitos, os sintomas silenciosos e os riscos escondidos nas famílias brasileiras. O ACS é a porta de entrada real do SUS — ou deveria ser.
Infelizmente, o que se vê em muitas cidades do país são agentes sem apoio, sem estrutura e muitas vezes sem sequer visitar os domicílios. Como no caso de um morador de 70 anos, do Bairro Kennedy em Caruaru, afirma que nunca recebeu a visita da agente de saúde, embora o nome da profissional conste regularmente na folha de pagamento da prefeitura. Isso não é exceção — é sintoma de um modelo que precisa urgentemente de revisão.
O que o ACS pode (e deveria) fazer
Segundo a Política Nacional de Atenção Básica, o ACS tem atribuições claras e valiosas:
Visitas domiciliares periódicas
Identificação precoce de sinais e sintomas
Acompanhamento de gestantes, crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas
Orientações sobre alimentação, higiene, vacinação, saúde bucal e mental
Prevenção de surtos, acidentes e violência doméstica
Atualização de prontuários e registros digitais (e-SUS)
Mais do que funções técnicas, o ACS tem algo que nenhum outro profissional do sistema tem: a confiança comunitária.
Potencial desperdiçado
O que falta para que esses profissionais assumam o protagonismo? Três palavras: formação, valorização e fiscalização.
Muitos agentes trabalham sem supervisão adequada ou capacitação contínua;
Os salários, em sua maioria, mal ultrapassam o salário mínimo, mesmo com funções de alta responsabilidade;
As metas são mais administrativas do que humanas: contar visitas, e não prevenir doenças.
Enquanto isso, o sistema gasta bilhões tratando doenças que poderiam ser evitadas com escuta, informação e acompanhamento ativo nas casas.
Hora de virar o jogo
A solução não está apenas em contratar mais médicos, mas em empoderar quem já está inserido no cotidiano da população. Dar protagonismo aos ACS significa:
Reduzir internações evitáveis
Antecipar surtos de dengue, gripe e outras doenças
Promover qualidade de vida com base em vínculos e escuta
Reforçar a lógica da saúde preventiva que sustenta o SUS
Convite para o próximo artigo da TVSaúde.Org:
No próximo artigo da série, vamos revelar como o retorno estratégico dos Agentes Comunitários às ruas pode transformar bairros inteiros em zonas de prevenção ativa, com impacto real na redução de doenças crônicas e surtos sazonais.